quarta-feira, 24 de outubro de 2007

silêncio e incomunicabilidade do ruído

por cristiane senn

referência direta ou não, Bergman e Antonioni estiveram muito presentes durante o trabalho do grupo. mesmo – e principalmente por serem – recentemente falecidos. obviamente, nem mesmo o espectador de cinema, quanto mais o comum, irá notar a presença de Bergman quando vir a personagem comer morangos no café da manhã. mas ouso apontar aqui, talvez muito pretensiosamente, a relação do “ruído” com as trilogias do silêncio e da incomunicabilidade.

- trilogia da incomunicabilidade, de Michelangelo Antonioni: a aventura (1959), a noite (1960), o eclipse (1961).

- trilogia do silêncio, de Ingmar Bergman: através de um espelho (1961), luz de inverno (1962), o silêncio (1963).

a denominação de tais trilogias já é, em si, o tema principal do filme. há sim um trauma, um segredo, um motivo. mas o foco principal é o ruído [ou pelo menos se pretende que o seja]. não o ruído sonoro, não da forma literal. o ruído que, na teoria da comunicação, gera a incomunicabilidade. o ruído que atrapalha a percepção de uma dita realidade – e, se não dita, é porque o ruído silencia esse dizer.
antonioni altera a percepção cinematográfica da crise do homem do século XX, diante dos impasses mal definidos dos relacionamentos pessoais. bergman cerceia o psicológico e o patológico num nível individual, na relação dos personagens consigo mesmos e com a própria fé. ‘ruído’, utilizando-se destes conceitos/temas/questionamentos, procura o motivo, cutuca o inerte, passeia, caminha por entre o conflito. a câmera toma o papel do terceiro personagem: o segredo. aquele que é o melhor amigo de Paula, aquele que Vanda evita.

tomando por base os temas dos dois grandes, este pequeno desmonta a questão do silêncio e da incomunicabilidade para reconstruí-la sobre uma contradição ainda mais explícita. observa-se, além do sonho-memória, a relação com o presente. cada uma das duas esferas é representada por uma das personagens. Vanda não olha para trás, jamais. mas de forma superficial, porque seu inconsciente deseja observar, deseja que seu passado a cerque de alguma forma. gosta da fotografia, que entre outras coisas, dialoga com os paradoxos presente-passado e verdade-mentira. Paula não é exatamente o contrário. deseja as mesmas coisas que a outra, mas de forma consciente. leva suas percepções ao nível onírico e ficcional – considerando-se que a ficção não é propriamente o oposto de realidade, mas sua causa e conseqüência.

é claro que há uma reviravolta, mas não a contarei aqui. apenas antecipo que, longe do maniqueísmo, o desfecho vai muito além de inversão ou não de papéis. sejam os elementos quais forem, os paradoxos permanecem, pois assim é a própria existência humana – e isso não é, de forma alguma, um drama, mas uma constatação.

7 comentários:

Anônimo disse...

Adorei isso! Ficou muito bom!
Beijos!!!

Anônimo disse...

oi cris! afiadíssima no argumento! senti firmeza!

Anônimo disse...

até eu fiquei morrendo de vontade de ver o filme agora.

quando estréia????

Anônimo disse...

está ÓTIMO esse texto! é um convite a entrar na mente das personagens!

muito bom mesmo! está melhor que o filme! parabéns!

Anônimo disse...

ai gente, brigada.
lembrando que artigos são sempres bem-vindos. são mais 29 cabeças pensantes nessa turminha.
bejos.

Anônimo disse...

Sim, adorei o blog, parabéns pessoal!! Vcs são meus ídolos!

Unknown disse...

Muito bom o texto!!
adorei como ficou e como consegue descrever o drama sem ser dramático =D

quero ver depois como ficou na tela grande!!